sábado , 27 abril 2024
Capa » Esportes » Sem comando, CBF aguarda presidente do STJD para convocar eleições
Sem comando, CBF aguarda presidente do STJD para convocar eleições

Sem comando, CBF aguarda presidente do STJD para convocar eleições

Após a Justiça do Rio de Janeiro determinar a destituição de Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a entidade que comanda o futebol brasileiro vive em compasso de espera.

Pela decisão do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), o presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), José Perdiz, deve assumir como interventor na entidade e convocar eleições em 30 dias.

Perdiz tomará posse assim que houver a publicação da decisão do TJ-RJ e a notificação das partes envolvidas. A confederação, no entanto, está em recesso e ainda não foi oficialmente notificada. Procurada pela reportagem, a entidade não se manifestou.

De acordo com o presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB Butantã e especialista em Direito do Trabalho e mestre em Direito Desportivo, Higor Maffei Bellini, o recurso que cabe a Ednaldo Rodrigues pode adiar a entrada do interventor no comando da entidade.

“O interventor só vai assumir depois de publicado a decisão no Diário Oficial. Mas, se eles [Ednaldo e sua defesa] entrarem com os embargos de declaração, que é um recurso que suspende essa decisão e seria preparatório para uma busca de uma decisão junto ao STJ, ficaria postergada a entrada desse interventor na CBF”, explica Bellini.

No entendimento do especialista, Ednaldo ainda não pode, portanto, ser considerado como presidente deposto. “Ele ainda não está afastado por causa disso. A decisão está pendente de recurso.

O informativo que está no site não é a intimação oficial. A CBF continua com o comando do atual presidente por caber o recurso e, por talvez, ele também não ter sido notificado ainda”, diz.

Caso de fato venha assumir o posto à frente da CBF, temporariamente, o presidente do STJD será responsável pelas rotinas administrativas da entidade, como o pagamento de contas e funcionários.

Perdiz soube da decisão do TJ-RJ quando estava em sessão do STJD na capital carioca e não quis falar com os jornalistas presentes. Ele assumiu a presidência do tribunal desportivo em maio, substituindo Otávio Noronha.

A reportagem procurou o STJD, mas não teve retorno até a publicação da reportagem.

A CBF deve recorrer a tribunais superiores para tentar reverter a decisão da Justiça do Rio. Até lá, Rodrigues deve seguir afastado do cargo. Em tese, contudo, o dirigente não está inelegível, e pode se candidatar nas eleições que Perdiz vier a convocar.

A destituição do cargo do presidente da CBF se deu após os desembargadores Gabriel Zéfiro, Mauro Martins e Mafalda Lucchese avaliarem que o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) não tinha legitimidade para ajuizar TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) acordado com a CBF em 2022.

O termo abriu caminho para a eleição de Rodrigues, mas agora foi considerado ilegal pela Justiça.

Ednaldo firmou o acordo quando ocupava a presidência da CBF interinamente, no lugar de Rogério Caboclo, afastado por denúncias de assédio contra funcionárias da entidade.

O termo de ajustamento foi resultado de uma ação movida pelo Ministério Público em meados de 2018, que questionava a CBF em relação ao processo eleitoral para a presidência da confederação.

POSSÍVEIS PUNIÇÕES À CBF

A Fifa (Federação Internacional de Futebol) e a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) enviaram ofícios à CBF alertando sobre os riscos em caso de interferência externa, no caso da Justiça comum, na entidade.

Em cartas endereçadas ao secretário-geral da CBF, Alcino Reis Rocha, a Fifa e a Conmebol reafirmaram que o estatuto da federação mundial “obriga as associações membros a gerir os seus assuntos de forma independente, sem influência de terceiros, incluindo quaisquer entidades estatais”.

O artigo 16 do estatuto da Fifa diz que qualquer violação de tal obrigação pode levar a sanções, ainda que a influência não tenha sido causada pela associação membro em questão. Entre as possíveis punições, é possível a suspensão da participação da seleção brasileira e de clubes em torneios organizado pela Fifa e pela Conmebol.

“Mesmo que não tenha ocorrido qualquer punição da FIFA à época do TAC que garantiu Ednaldo como Presidente da CBF, isso não afasta a possibilidade da FIFA considerar a decisão do TJ-RJ como interferência externa e aplicar punições”, diz Victor Campos, advogado de direito de entretenimento.

A entidade máxima do futebol diz que tomou conhecimento de que o acordo celebrado entre CBF e o Ministério Público correria risco de ser cancelado e pediu para ser informada sobre qualquer avanço em relação ao tema. O documento é assinado por Kenny Jean-Marie, diretor das federações membros da Fifa.

O desembargador Mauro Martins fez questão de afirmar que a decisão não caracteriza uma interferência externa. “Quero deixar claro que isso não é uma interferência externa na CBF. Estamos nomeando alguém da Justiça desportiva [presidente do STJD], não alguém externo. Portanto, não pode ser considerado interferência externa”, disse ele.

O vácuo no comando da CBF ocorre em um momento no qual Ednaldo Rodrigues se vê fragilizado, sobretudo devido aos fracassos recentes acumulados pela seleção brasileira, como a queda nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022, além do fraco desempenho apresentado nas Eliminatórias para o Mundial de 2026.

O Brasil é, atualmente, apenas o sexto colocado do torneio classificatório, com sete pontos, oito a menos do que a líder Argentina. A distância na tabela reflete o que tem sido considerado como um ano perdido para a equipe canarinho, que, desde a saída do técnico Tite, logo após o Mundial no Qatar, está sob o comando de interinos.

O afastamento de Ednaldo Rodrigues torna ainda mais incerta a propalada chegada do treinador italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid.

A instabilidade favoreceu o ressurgimento de uma oposição ao atual presidente da CBF, algo com o qual ele não convivia até o momento.

De acordo com o portal o UOL, nomes com Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, ex-presidentes da entidade, mesmo banidos do futebol, têm articulado para minar a gestão de Ednaldo. Eles estariam repassando dossiês nos quais criticam o que consideram gastos excessivos da atual gestão, atrasos de pagamentos e outras decisões administrativas.

FONTE: FOLHA PRESS

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Required fields are marked *

*

vinte − 20 =